Inflação: forma invisível que promove concentração e transferência de renda
No ano de 2021 a inflação acumulada medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) alcançou 10,06% ficando acima do teto da meta estabelecido pelo CMN – Conselho Monetário Nacional que foi de 5,25%. Em 2022 novamente a meta de inflação não foi batida. Como justificativa, o Presidente do Banco Central Roberto Campos Neto relatou diversas causas para estes eventos como “a inércia da inflação do ano anterior; a alta elevação dos preços de commodities, principalmente petróleo; desequilíbrios entre demanda e oferta de insumos e gargalos nas cadeias produtivas globais; choques em preços de alimentação, resultantes de questões climáticas; retomada na demanda de serviços e no emprego, impulsionada pelo acentuado declínio da quantidade de casos de covid-19 e consequente aumento da mobilidade”.
Causas da Inflação
A Teoria Quantitativa da Moeda (TQM) surgiu na teoria econômica em 1854 descrita por Simon Newcomb e foi popularizada pelo economista Irving Fisher, em 1911 no artigo The Purchasing Power of Money. David Hume em 1752 foi o primeiro economista a associar a relação entre oferta monetária e economia real.
Estes economistas clássicos desenvolveram a teoria quantitativa da moeda (TQM), base da teoria monetarista atual, para demonstrar que a inflação é causada pelo aumento da oferta de moeda comparativamente ao aumento da produção de bens e serviços na economia. Em resumo, estes economistas entenderam que a inflação é gerada por um desequilíbrio entre a oferta de moeda e a demanda por bens e serviços.
Segundo essa teoria, se a oferta de moeda aumentar mais rapidamente do que a quantidade de bens e serviços produzidos, a demanda por esses bens e serviços também aumentará. No entanto, caso a oferta de bens e serviços não aumente na mesma proporção da oferta de moeda, os preços tenderão a subir para equilibrar a oferta e a demanda.
Em contraponto, o economista John Maynard Keynes explicava as causas da inflação em sua teoria geral por meio de uma abordagem de demanda e oferta agregada na economia. Para ele, a inflação era causada pelo descompasso entre a oferta e a demanda na economia. Quando a demanda agregada é maior do que a oferta agregada, há um excesso de demanda por bens e serviços, o que leva a um aumento de preços. Esse aumento de preços, por sua vez, pode gerar expectativas de inflação futura, levando a um ciclo inflacionário.
Como a inflação promove concentração e transferência de renda afetando pessoas de menor renda
A Dra. Adriana Ferreira da Silva, pesquisadora da área de macroeconomia do Cepea USP no artigo Desigualdade inflacionada: os efeitos da inflação sobre diferentes classes de renda relata que “em geral, as pessoas mais pobres têm sua poupança aplicada em ativos menos sensíveis à inflação (como o depósito à vista ou a caderneta de poupança). A inflação contribui para uma concentração de riqueza. Em ambos os casos a inflação acentua a desigualdade social”.
O Prof. Diercio Ferreira, economista e autor do livro Seu futuro no mercado financeiro: CPA-20 Certificação Profissional ANBIMA descomplicada entende que “a inflação opera como Robin Hood às avessas tirando dos mais pobres e doando para os mais ricos e o Governo”.
As pessoas com renda mais baixa tendem a sofrer mais com o processo inflacionário por terem menos acesso a instrumentos financeiros e por possuírem uma propensão maior a consumir bens e serviços básicos, cujos preços tendem a subir mais rapidamente durante um processo inflacionário.
Por outro lado, pessoas de renda mais alta podem se proteger da inflação investindo em ativos financeiros ou títulos públicos e privados que ofereçam uma taxa de retorno maior do que a inflação. Por último, o governo emissor de moeda também se beneficia da inflação, uma vez que pode emitir dinheiro para pagar suas dívidas, sem a necessidade de aumentar impostos ou cortar gastos.
Essa transferência de renda ‘invisível’ acontece na prática porque, à primeira vista, não é fácil perceber que a inflação está causando uma redistribuição de renda. O aumento dos preços pode parecer uma consequência natural da dinâmica dos mercados, mas na verdade, o que acontece é a transferência de recursos dos mais pobres para os mais ricos e o Governo.
Senhoriagem na emissão de moeda: como o Governo pode gerar inflação
Senhoriagem é a receita que o governo obtém ao emitir moeda, ou seja, a diferença entre o valor nominal das notas e moedas emitidas e o custo de produção desses meios de pagamento. Quando o governo emite mais moeda do que a economia pode absorver, isso pode levar a um aumento da inflação, já que a oferta de moeda excede a demanda por bens e serviços.
Por outro lado, se o governo controla adequadamente a oferta monetária e utiliza a senhoriagem para financiar investimentos que aumentem a capacidade produtiva da economia, pode haver um aumento da oferta de bens e serviços sem gerar inflação.
A Inflação e seus impactos no orçamento das pessoas na base da pirâmide social
A inflação pode ter um efeito regressivo na distribuição de renda, o que significa que ela pode transferir recursos dos mais pobres para os mais ricos e o governo. Isso ocorre porque o governo, em algumas situações, pode imprimir mais dinheiro para pagar suas dívidas ou financiar programas de gastos aumentando a quantidade de dinheiro em circulação, o que, por sua vez, pode levar a aumentos nos preços.
Como resultado, os preços dos bens e serviços podem aumentar mais rapidamente do que os salários das pessoas, o que pode reduzir o poder de compra dos assalariados e transferir a riqueza para aqueles que têm mais ativos financeiros. Esse processo pode ser particularmente prejudicial para as pessoas que dependem de salários fixos e não têm capacidade de negociação para aumentos salariais que compensem a inflação.
Portanto, a inflação pode ter um impacto desproporcionalmente negativo nas pessoas de baixa renda, exacerbando as desigualdades econômicas e sociais. O governo pode desempenhar um papel importante no combate à inflação e na proteção das pessoas mais vulneráveis, implementando políticas econômicas adequadas, como o controle da oferta monetária e a promoção de um ambiente econômico estável e previsível.