Massa de pessoas negativadas é problema que precisa ser endereçado, avalia ABCD
No centro de um dos principais debates econômicos do momento, o mercado de crédito passou por um ciclo de grande inovação, ainda não atingiu todo seu potencial de disrupção e precisa equacionar a questão do volume das negativações. É o que afirma Sandro Reiss, presidente da Associação Brasileira de Crédito Digital, que representa as fintechs de crédito.
Em análise recente, Reiss estima que as fintechs respondam hoje por 3,5% do setor, que atravessa um momento desafiador, principalmente pelo alto endividamento das famílias – segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em abril, 78,3% das famílias brasileiras estavam endividadas. Do ponto de vista das instituições financeiras, esse grau de endividamento é um obstáculo importante a ser considerado.
“A maior parte dos brasileiros é consumidor de crédito e não poupador, o que gera entraves para quem quer oferecer outros produtos. No entanto, o crédito é a principal porta de entrada para relacionamento com uma nova instituição e hoje, diferentemente do que ocorria até alguns anos atrás, não existe mais a barreira de lealdade. Antes era necessário fazer um esforço enorme para convencer o cliente a realizar uma operação financeira fora do banco dele”, destaca.
Sobre as movimentações atuais para fazer frente à massa de pessoas negativadas, Reiss pontua que se trata de um problema a ser endereçado. “O número de negativados se tornou contraprodutivo. Em uma família, um negativado arrasta duas ou três pessoas para um ambiente de crédito pior, em um cenário de qualidade já muito baixa do endividamento médio”, afirma ele.
Avaliando as mais recentes iniciativas de forte impacto no mercado, Reiss destaca o Open Finance, que possibilitou a abertura do histórico transacional e de relacionamento dos clientes, criando um novo ambiente de dados, e o Cadastro Positivo, que trouxe um novo universo de informações para os birôs de crédito.
A novidade com potencial de trazer mais disrupção ao segmento, segundo o presidente da ABCD, é o “embedded finance”, que se refere a empresas de outros setores que oferecem serviços financeiros em seu site ou aplicativo. Assim, o usuário não precisa sair da plataforma para contratar um serviço como, por exemplo, um empréstimo ou processar pagamento.
“As empresas de crédito, sejam voltadas à pessoa física ou jurídica, sempre tentaram promover uma intermediação mais eficiente do que as instituições tradicionais. E, nesse contexto, o embedded finance é a grande tendência, porque coloca as operações no fluxo da vida dos usuários. Neste momento, a inovação está em tornar a experiência de crédito transparente e mais inteligente”, finaliza.